Ciclo de Conferências: As Eleições Americanas

 


Nos dias 27 e 29 de outubro de 2020, o NECPRI organizou, via Zoom, um Ciclo de Conferências sobre as Eleições Presidenciais Norte-Americanas!

No dia 27 ocorreu o primeiro Webinar, onde Diana Soller e Rui Henrique Santos, investigadores do IPRI, debateram a atualidade da política norte americana, com a exímia moderação de Alexandre Martins, jornalista do Público. Não conseguiste ver o debate? Não há problema, consulta o nosso IGTV ou perfil de Facebook e encontrá-lo-ás disponível para assistires quando quiseres!

Começou-se por discutir o modo como se processam as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Para compreender a pluralidade dos Estados que integram a União, o sistema eleitoral está desenhado em 50 eleições diferentes, estando destinada uma eleição a cada um dos Estados. Assim, a cada Estado federado está atribuído um conjunto de “Grandes Eleitores” (uma quantidade própria de representantes determinada proporcionalmente pelo tamanho da  população do Estado), com um sistema-tipo winner takes it all, em que todos os grandes eleitores dos Estado detém um mandato de voto, no sentido do candidato presidencial mais votado nesse Estado. Basicamente, aquele candidato presidencial - geralmente republicano ou democrata - mais votado num Estado, recebe todos os votos dos Grandes Eleitores, mesmo que tenham sido eleitos pelo partido oposto. Deste modo, a campanha eleitoral joga-se num conjunto de Estados – os swing states – que, ao contrário dos restantes, não têm uma tradição eleitoral estátivel (ou republicanos ou democratas), como explicaram os nossos convidados.

Numa fase seguinte, Diana Soller introduziu um tópico de análise acerca desta campanha eleitoral: uma campanha de mobilização. Com base numa ideia de polarização ou de campanha anti-candidato oponente, Rui Henrique Santos fez notar o estreitamento da margem de vitória de Biden nas sondagens quando comparado às de Hillary Clinton num momento equivalente da sua candidatura em 2016. Em campanhas que passam essencialmente pela mobilização do eleitorado, e não por propostas concretas, os nossos convidados identificaram uma dificuldade de mobilização de Biden perante o «animal político com maior resiliência da modernidade» que é Trump.

Quanto ao eleitorado norte-americano, Diana Soller falou-nos do predomínio do eleitor empenhado politicamente, aquele que vota por questões de afetividade e identidade, em oposição ao eleitorado de voto mais racional, que diminuiu significativamente. Desta forma, os analistas concordaram que o partido que perder passará por uma «travessia do deserto» - uma busca por uma narrativa ou por uma identidade, que passará por um revisionismo de valores e uma reorientação no espetro político.

Prospetivamente, foram lançadas quatro hipóteses possivelmente orientadoras de uma Política Externa de Biden: (1) Reposicionamento da Posição dos EUA como líder da Ordem Mundial Internacional em decadência, (2) a manutenção ou aumento da animosidade para com a China, (3) a queda da NATO e os aprofundamentos dos laços com as democracias asiáticas e a (4) retoma da política de Obama no Médio Oriente; Rui Henrique Santos não consegue equacionar a queda dos EUA, continuando a ver os EUA como superpotência.

Num segundo dia, em conjunto com NECPRI, a AJPA/YATA Portugal organizou um debate, simultaneamente diferente e interdependente das eleições norte-americanas que passou pela análise da ordem internacional, no geral, e na NATO, em particular. Com a moderação de um membro de cada uma destas associações e uma intervenção inicial de Manuel Matos dos Santos, Presidente da AJPA, tivemos o prazer de contar com Teresa Botelho e Bernardo Pires de Lima numa conferência que proporcionou à nossa audiência uma discussão com grande elevação.

Os grandes temas em debate foram quatro: i) o futuro do multilateralismo; ii) o impacto esperado destas eleições na política externa dos EUA; iii) a gestão norte-americana da ascensão da China; iv) o futuro da NATO.

Na primeira rubrica, foi apontado um possível reforço do unilateralismo e do transnacionalismo bilateral no caso da vitória de Trump, agente e ator numa lógica de soma-zero, e na (re)negociação e retirada de acordos internacionais, procurando vitórias baseadas no consumo interno. Por outro lado, é esperado que Biden procure ‘arrumar a casa’ no sentido de recuperar as tradicionais orientações multilaterais e cooperativas da política externa norte-americana, enumerando-se, contudo, algumas dificuldades que esta recuperação pode enfrentar. 

Em relação à China, discutiu-se a improbabilidade de uma alteração significativa à postura dura que a administração Trump tem tomado vis-à-vis este país, notando-se que Biden, preservando a dinâmica competitiva, tentaria abordar a China em simultâneo de um posto de vista negocial e de enquadramento em acordos e compromissos internacionais.

Por último, insistiu-se numa grande fratura provocada pela administração Trump na Aliança Atlântica, mas também na resiliência da mesma, que se mantém pertinente nas relações internacionais, necessitando, contudo, de empreender um ‘debate existencial’ interno sobre o seu papel e objetivos nas décadas vindouras. O debate contou também com perguntas da audiência, em que se debateu a questão iraniana.

Os dados estão, assim, lançados para as eleições de dia 3 de novembro. Esperamos ter-te ajudado a compreendê-las melhor e cá estaremos sempre para contribuir para o debate público e acompanhar os grandes eventos que marcam a atualidade!

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