Think Tanks: a ponte entre a academia, a sociedade civil e os decisores políticos




 

Think Tanks: a ponte entre a academia, a sociedade civil e os decisores políticos


Introdução

Os think tanks desempenham um papel fundamental na análise e na elaboração de políticas públicas, oferecendo conhecimento especializado e propostas de soluções para problemas globais. Estas instituições de investigação são particularmente relevantes no campo da Ciência Política, onde a necessidade de análises complexas e de longo prazo é constante. Neste contexto, exploraremos neste artigo o que são os think tanks, o papel que desempenham e como é trabalhar num ambiente desta natureza.


O que são e o que fazem

Os think tanks são instituições que se dedicam à investigação e à análise de políticas públicas, com o objetivo de influenciar decisões governamentais e corporativas. Atuam como uma ponte entre a academia, a sociedade civil e os formuladores de políticas, oferecendo análises aprofundadas e recomendações baseadas em investigações. Alguns são independentes, enquanto outros têm vínculos com universidades, empresas ou governos, o que influencia a sua atuação e o tipo de agenda que promovem.

Um equívoco frequente é confundir think tanks com institutos de pesquisa, apesar de suas diferenças fundamentais relativamente ao foco e à forma de atuação. Os think tanks têm como objetivo principal influenciar políticas públicas e decisões estratégicas, oferecendo análises, recomendações e relatórios que buscam soluções práticas para problemas económicos, sociais e internacionais.

Já os institutos de pesquisa, por outro lado, têm um foco mais académico e científico, priorizando a produção de conhecimento por meio de estudos aprofundados e artigos revisados por pares. Deste modo, enquanto os think tanks buscam um impacto imediato e a aplicabilidade das suas investigações, os institutos de pesquisa concentram-se na produção de conhecimento de longo prazo, voltado para o avanço científico, muitas vezes sem uma preocupação direta em moldar políticas públicas.


O papel dos think tanks 

O papel dos think tanks é de grande relevância, pois estes atuam como facilitadores de conhecimento especializado e influenciadores de decisões políticas em escala global. Para atingir tais objetivos, os diferentes tipos de think tanks podem adotar distintas abordagens. 

Uma abordagem comum dos think tanks é a produção de análises detalhadas sobre questões complexas, como segurança internacional, comércio global, mudanças climáticas e conflitos geopolíticos, fornecendo informações valiosas para governos, organizações internacionais e empresas. Estes relatórios, baseados em dados e evidências, tornam-se referência para diplomatas e legisladores, que utilizam essas análises para fundamentar a criação de novas políticas externas ou ajustar estratégias diplomáticas.

Outro meio de influência dos think tanks dá-se através da organização de seminários, conferências e debates, que reúnem líderes globais, especialistas e representantes de diversos sectores. Estes eventos permitem que novas ideias e perspetivas sobre questões políticas sejam discutidas e ganhem destaque na agenda global, facilitando o diálogo entre diferentes atores e a formulação de respostas conjuntas a desafios transnacionais. Complementarmente, os think tanks têm uma presença ativa na comunicação social, publicando artigos e análises em veículos de comunicação influentes, o que ajuda a moldar também a opinião pública e, consequentemente, a agenda política dos governos.

Em alguns casos, os think tanks também realizam advocacy direta, buscando influenciar políticas específicas por meio de reuniões privadas ou participação em fóruns internacionais. Dessa forma, ao fornecer análises estratégicas, promover debates e influenciar diretamente líderes e diplomatas, os think tanks desempenham um papel essencial na formulação de políticas e estratégias, contribuindo para uma maior compreensão e cooperação global e doméstica. Além disso, os think tanks atuam como consultores diretos de governos e instituições multilaterais, desenvolvendo estudos e cenários que orientam decisões cruciais em temas de diplomacia e segurança global.


Os Think Tanks no Mundo

Apesar de a Ásia ser o continente com o maior número de think tanks no mundo (em 2020, contava com 3389), continua a existir uma preponderância dos think tanks do Ocidente, sendo que 47% destes estão localizados na América do Norte e na Europa. Menos conhecidos são os da América do Sul e Central e de África, que apesar do reduzido número, em conjunto ultrapassam, em termos quantitativos, os dos EUA

O processo de globalização veio alterar a forma de funcionamento dos think tanks e já houve diversos a inaugurarem escritórios e ramos noutros países e continentes, com think tanks americanos a instalarem-se na Europa, Rússia e Ásia (mais precisamente a China) e vice-versa.  

As prioridades dos think tanks também variam consoante o continente de origem. Na América do Norte e Europa têm como principal foco as questões de segurança e defesa, economia internacional e as relações internacionais na sua generalidade. Os think tanks em África dedicam-se a temas relacionados com a realidade económica e social do continente, como o desenvolvimento económico ou a utilização dos recursos naturais e a alimentação. Na Ásia, devido à sua dimensão e diversidade, os think tanks abordam as mais variadas áreas: desde a segurança e defesa até estudos regionais do próprio continente asiático, passando por políticas económicas nacionais. Neste continente destaca-se ainda o Médio Oriente, onde a maioria dedica-se ao estudo da paz na região e no mundo.

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1 The Lauder Institute (2021). Think Tank Index Report 2020. 2 idem 3 idem


Críticas: Financiamento e Parcialidade 

 Apesar das vantagens que os think tanks promovem, estes são alvo de várias críticas, sendo as principais o seu financiamento e a sua parcialidade.

No que toca ao financiamento, o problema principal que se impõe é a falta de transparência relativamente à origem do mesmo. Muitos think tanks não revelam o local de proveniência dos seus fundos, colocando em causa a transparência e integridade dos mesmos. Tendo em conta que muitos deles exercem influência sobre os governos e sobre as políticas públicas, e, por isso, indiretamente sobre as nossas vidas, saber qual a origem do financiamento deveria ser algo do interesse não só dos governos, mas também da sociedade civil. A título de exemplo, apenas em 2022, os think tanks mais sigilosos do Reino Unido receberam mais de 14 milhões de libras por parte de doadores misteriosos, cuja identidade é mantida em segredo. Em 2017, nos Estados Unidos, um dos think tanks mais conhecidos, o New America Foundation, acabou com o seu programa dedicado ao estudo de monopólios e formas de os combater após o diretor do programa ter considerado a Google um monopólio. Coincidentemente, a Google era, e é, um dos maiores doadores do New America Foundation, tendo doado este ano mais de um milhão de dólares a este think tank.

Apesar disso, o relatório de 2018 da Transparify indica uma melhoria dos níveis de transparência. Em 2013, o número de think tanks avaliados em cinco estrelas era de apenas 13. Em 2018, esse número já havia aumentado para 67

Relativamente à questão da parcialidade, são escassos os think tanks verdadeiramente independentes, uma vez que os seus doadores exercem um grande nível de influência no seu interior.

O caso mais evidente de parcialidade dos think tanks é o caso americano. A grande maioria destas instituições é alvo de uma categorização entre não partidárias,

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4 https://www.opendemocracy.net/en/dark-money-investigations/think-tanks-transparency-funding- who-funds-you/ 5 https://www.npr.org/2017/09/20/551364067/who-controls-think-tanks-shift-in-funding-highlights- changes-in-the-industry 6 https://www.newamerica.org/our-funding/our-funders/ 7 Transparify (2018). How has think tank transparency evolved in 2018?

bipartidárias e partidárias (mais precisamente liberal ou conservador). Enquanto que os think tanks não partidários não estão ligados a nenhum partido político específico (ex: Carnegie Endowment for International Peace), os think tanks considerados bipartidários têm ligações com os dois partidos americanos (ex: Center for Strategic and International Studies). Relativamente aos think tanks partidários, este podem estar ligados ao partido Democrata (liberais) ou ao partido Republicano (conservadores). Por exemplo, durante a administração de George W. Bush, o Vice-Presidente, Dick Cheney, o Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e a Secretária de Estado, Condoleeza Rice, provinham todos de think tanks conservadores de Washington (American Enterprise Institute, Project for the New American Century e Hoover Institution, respetivamente). Se por um lado os políticos podem passar dos think tanks para o governo, o inverso também pode ocorrer, tal como aconteceu na administração Trump. O Vice-Presidente, Mike Pompeo, integrou a Heritage Foundation enquanto distinguished visiting fellow e o Secretário de Estado, Michael Pompeo, é agora um distinguished fellow no Hudson Institute.


Como é trabalhar num think tank

Trabalhar num think tank é uma experiência enriquecedora para aqueles que se desejam aprofundar em temas complexos e influenciar o debate público. Profissionais de diversas áreas, como Ciência Política, Ciências da Comunicação, Relações Internacionais, Direito e Economia, podem encontrar espaço nesse ambiente dinâmico. Embora o trabalho num think tank possa ser desafiador, a oportunidade de colaborar com especialistas, desenvolver análises impactantes e influenciar decisões estratégicas torna esta carreira altamente atrativa para muitos. Ao combinar uma mentalidade analítica com uma abordagem prática, os profissionais deste sector desempenham um papel vital na formulação de políticas e no avanço do conhecimento em áreas de interesse público.



Conclusão

Em suma, os thinks tanks são instituições muito importantes, não apenas pela sua capacidade de influência no que toca a políticas públicas, mas também pelo facto de serem um ponto de encontro entre académicos, decisores políticos e sociedade civil. Apesar disso, muitos think tanks enfrentam críticas, como a falta de transparência do seu financiamento e a sua parcialidade e influência dentro dos governos.

8 https://www.voanews.com/a/think-tanks-us-policy/4338913.html 9 https://www.heritage.org/press/vice-president-mike-pence-joins-heritage-foundation-distinguished- visiting-fellow 10 https://warroom.armywarcollege.edu/articles/think-tanks/




Fontes:

https://www.opendemocracy.net/en/dark-money-investigations/think-tanks-transparency-funding-who-funds-you/

https://www.npr.org/2017/09/20/551364067/who-controls-think-tanks-shift-in-funding-highlights-changes-in-the-industry

https://www.voanews.com/a/think-tanks-us-policy/4338913.html

https://warroom.armywarcollege.edu/articles/think-tanks/

https://www.heritage.org/press/vice-president-mike-pence-joins-heritage-foundation-distinguished-visiting-fellow

Transparify (2018). How has think tank transparency evolved in 2018? (https://static1.squarespace.com/static/52e1f399e4b06a94c0cdaa41/t/5b4cfa3d758d463a3bfb54ac/1531771467608/Transparify+2018+Think+Tanks+Report.pdf)

The Lauder Institute (2021). Think Tank Index Report 2020 (file:///C:/Users/olive/Desktop/2020_Global_Go_To_Index_03.17_FINAL.pdf)

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