49 Anos de Liberdade
Beatriz Pereira
Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, 1º Ano - NOVA FCSH
As opiniões expostas neste artigo vinculam exclusivamente os seus autores.
49 Anos de Liberdade
25 Abril de 1974, o início do sonho para uns, do desconhecido para outros, mas da liberdade para todos.
O contexto internacional de 1974 foi marcado por ruturas de extrema relevância que impulsionaram o processo transformador português. Desde de uma crise petrolífera à expressa vontade da Assembleia Geral das Nações Unidas de uma nova ordem económica internacional, podemos observar que o mundo ocidental, assim como Portugal, estava a passar por um processo de transformação.
A década de 70 fora para Portugal uma das mais renovadoras, e produtoras de efeitos duradouros, da sua história. A conquista dos três grandes “D” do programa do Movimento das Forças Armadas, a descolonização, a democratização e o desenvolvimento, não só foram conquistados como consagrados na lei.
“Quis
saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou...”
Assim começou a conquista das liberdades fundamentais do povo português. As canções de Paulo de Carvalho e de Zeca Afonso foram os sinais de código que deram início às operações do golpe militar do Movimento das Forças Armadas que colocaria fim aos 48 anos do regime autoritário do Estado Novo e traria a democracia a Portugal. Para além de sinais de códigos, estas canções realçavam o caráter desta sociedade. Uma aparente canção de amor que refletia a repressão, o abandono e a falta de controlo na sua autodeterminação. Por outro lado, uma canção associada à clandestinidade por atribuir o poder, a amizade e a igualdade ao povo. Frases que revelam as mentes dos portugueses...quem era este povo? Através de muros, quer sejam de páginas de livros censurados ou pela mão da PIDE, o questionamento, a literatura, a ideologia e a curiosidade, permaneciam atrás de portas que apenas abriam para alguns.
Porém, na madrugada de 25 de Abril de 1974 a Liberdade já corria pelos cabos de comunicações do posto de comando do MFA na Pontinha e horas depois, através da rádio, os portugueses ouviram as primeiras palavras de liberdade. O primeiro comunicado do MFA foi lido pelo jornalista Joaquim Furtado, apelando à recolha da população e anunciando a intenção de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português. Enquanto se dava a ocupação dos estúdios da Rádio Clube Português, o capitão Salgueiro Maia marchava em direção a Lisboa. Já na capital, foi tomada uma posição perante os ministérios e sucessivamente o quartel do Carmo da GNR, onde estava Marcelo Caetano, fora cercado. A população, já nas ruas, juntava-se aos capitães, e no meio de sorrisos, lágrimas e cravos, fez-se Abril. O dia que iniciou a transformação do Portugal autoritário para o Portugal democrático.
Tanto as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do Movimento das Forças Armadas como as primeiras eleições livres com sufrágio universal e o desenvolvimento da educação e do movimento sindicalista (60,8% dos trabalhadores eram sindicalizados em 1978)...tornam visível a grande relevância dos acontecimentos revolucionários.
De forma a refletir sobre o impacto e as sucessivas conquistas permitidas por este dia tão marcante na história de Portugal, o NECPRI aconselha a leitura do estudo intitulado “25 de abril - 40 anos de estatísticas” realizado pelo instituto Nacional de Estatística que demonstra a evolução das diversas áreas socioeconómicas de Portugal desde o estado autoritário. Hoje, passados 49 anos, as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, que decorrem desde o ano passado, enaltecem uma campanha que durará até 2026 e que propõem um tema para cada ano de celebração. Este ano de 2023, as comemorações colocam o seu foco no “papel do mundo do trabalho e do movimento sindical independente e anticorporativo no combate à ditadura”. Além disso, as comemorações realizam ainda uma campanha com o slogan “#NãoPodias” que expõe as proibições legais e morais estabelecidas pelo conservadorismo e pela política de censura do regime do Estado Novo.
“Conhecer a história é imprescindível
para compreender o presente e para construir o futuro.”
Estas campanhas pretendem, para além de relembrar o passado, assegurar a
liberdade do futuro. Numa sociedade com desigualdades ainda tão prementes e com
uma baixa taxa de sindicalização é
necessário evocar as vozes de Abril, apelando às gerações presentes e
futuras.
Este ano, ao serem celebrados 49 anos de liberdade, como é tradição, a Revolução dos Cravos será comemorada na rua em grupos de amigos e em família com cravos ao peito. Os portugueses descem a Avenida da Liberdade em honra daqueles que fizeram Abril e que nos permitem hoje, sem censura ou repressão, cantar, marchar e escrever artigos, em nome da Liberdade.
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